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Pode-se dizer que o termo APROXIMAÇÃO FACIAL é o processo pelo qual se recriam os caracteres faciais de um indivíduo a partir do estudo dos ossos do seu crânio. Antes chamado de “Reconstrução Facial”, passou a ser melhor recebido como “Aproximação” após o novo termo ser sugerido por Robert M. George em 1987, pois o autor acreditava que, mesmo que os protocolos fossem bem executados, o resultado somente se “aproximaria” da aparência da face original do indivíduo.

O processo de Aproximação Facial, seja ela com finalidade histórica ou forense, funde diversas áreas do conhecimento humano como a arte, ciência forense, antropologia, osteologia e anatomia. A correspondência entre as relações faciais verticais e horizontais e os índices faciais aplicados à população respalda cientificamente a execução das técnicas de aproximação facial, unindo os aspectos artísticos e subjetivos de um desenho manual ou computadorizado ou até mesmo de uma escultura a dados mensuráveis.

Como são realizadas as Aproximações Faciais?

Atualmente, as aproximações faciais são desenvolvidas utilizando três técnicas principais:

  • Desenho 2D manual;
  • Escultura 3D manual;
  • Modelagem automatizada por computador 2D e 3D.
Aproximação Facial feita com escultura 3D manual.
Imagem: Aproximação Facial feita com escultura 3D manual. FONTE: AUTORA

Qual a importância das Aproximações Faciais?

Remontando da antiguidade, as representações mais antigas que se conhecem, são as “Cabeças de Jericó”, construídas a partir de materiais artísticos aplicados em crânios humanos, datadas do Período Neolítico, por volta de 7.000 a.C. Em escavações realizadas por volta de 1953, na cidade palestina de Jericó, foram encontrados dois depósitos, onde 9 crânios tinham rostos cobertos em gesso sobre o osso, com conchas inseridas nas órbitas para representar os olhos. Após este período, muitos outros povos deixaram registros físicos de tentativas de aproximações faciais de sua época, como os Egípcios com as faces de ouro esculpidas nos sarcófagos.

Cabeças de Jericó.
Cabeças de Jericó. FONTE: Google Imagens

O ser humano costuma ter a necessidade de relembrar seus antepassados e entes mais queridos, mantendo viva sua memória, na tentativa de preservar sua aparência gravada através do tempo. E, previamente à utilização de pinturas ou fotografias, os povos tentavam preservar a imagem facial das pessoas da forma que podiam. Esta importância se percebe desde os povos antigos até os dias de hoje, onde buscando preservar a história e curiosos pela aparência daqueles que nos antecederam, buscamos, de diversas formas, a aproximação dos rostos de pessoas descritas, familiarizando-nos com a sua aparência.

O rosto humano sempre foi uma das maiores referências da individualidade do ser humano. Junto à comunicação, é uma chave central das relações interpessoais, sendo uma das principais formas de conexão dentro de uma comunidade, desde os primórdios da humanidade.

Assim como na busca de conhecimento histórico, na aplicabilidade forense também podemos observar que as pessoas, angustiadas em saber onde estão e o que ocorreu com seus entes mais queridos perdidos, buscam, muitas vezes, no reconhecimento facial, fechar um ciclo de incertezas, como forma de aliviar a dor e dar continuidade ou fim a uma história individual antes julgada em suspenso, seja pela morte ou desaparecimento de alguém.

A Aproximação Facial Forense pode não ser considerada um método de IDENTIFICAÇÃO HUMANA, mas pode ser aplicada na área como um recurso de RECONHECIMENTO individual com grande valor para:

  • Estreitar as buscas;
  • Produzir uma lista de nomes;
  • Reduzir número de vítimas não identificadas;
  • Reduzir custos com testes de DNA e
  • Reduzir o tempo de espera para famílias envolvidas.

Conduzindo ao reconhecimento de uma suposta vítima, o processo de identificação ocorre na sequência, por meio de exames de DNA ou Odontológico legal.

Por que, dentre os restos mortais, a escolha do crânio para a aproximação facial?

Crânios podem permanecer íntegros por séculos, até milhares de anos, e fornecer um meio incomparável de identificação, mesmo que separado da mandíbula por perda das estruturas moles. Os ossos do crânio são um fator determinante da aparência facial. Eles formam a estrutura básica onde outros tecidos são ligados e a aparência de uma pessoa depende de todos esses fatores juntos – pele, músculo, gordura e osso. As médias populacionais de espessura de tecido mole (músculo, gordura e pele) são estabelecidas por diversos estudos, alguns realizados com cadáveres, outros realizados por meio de exames radiográficos, entre outros, que com o avanço da tecnologia, tendem a ser cada vez mais informatizados.

Falando em estudo!!

Em 2021, nosso grupo de pesquisa formado por pesquisadores do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Associação Brasileira de Odontologia do Rio Grande do Sul, buscou demonstrar dois protocolos de Aproximação Facial Bidimensional (AFB) confeccionados com recursos das técnicas do Retrato Falado e de Aproximação Facial Tridimensional digital.

Como?

Ambos os protocolos foram baseados em parâmetros craniométricos e de sua correspondência facial obtidos de um crânio humano tomografado por Cone Beam. Após isto, estes protocolos foram confrontados com uma fotografia do indivíduo alvo.

Imagem: Técnica de Retrato Falado.
Imagem: Técnica de Retrato Falado. FONTE:  https://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/1189
Imagens: Técnica 3D computadorizada. FONTE: https://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/1189
Imagens: Técnica 3D computadorizada. FONTE: https://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/1189

E os resultados?

As técnicas citadas, quando comparadas com a fotografia do indivíduo, apresentaram compatibilidades e incompatibilidades. E com os resultados obtidos, se pode chegar a conclusão que as duas técnicas demonstradas podem ser úteis no processo de reconhecimento facial humano. Neste sentido, nosso grupo sugere mais pesquisas sobre os dois protocolos, visando auxiliar no trabalho de profissionais forenses no reconhecimento de crânios humanos não identificados, muitas vezes acumulados em grande quantidade nos Institutos de perícia do Brasil.


No nosso país, há um banco de dados de DNA ainda incipiente, ou seja, muito inicial, com poucas amostras. Desta forma, muitas vezes é necessário um método fácil, barato e rápido para reduzir as opções de confronto entre uma ossada encontrada e indivíduos desaparecidos.

Comparação com a aproximação facial bidimensional realizada com técnicas da aproximação facial 3D digital. Imagens escalonadas
Imagem: Comparação com a aproximação facial bidimensional realizada com técnicas do retrato falado. Imagens escalonadas. A. Imagem da fotografia frontal de face do indivíduo; B. Representação facial forense – Retrato falado; C. Sobreposição das imagens. FONTE: https://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/1189
Comparação com a aproximação facial bidimensional realizada com técnicas da aproximação facial 3D digital. Imagens escalonadas
Imagem: Comparação com a aproximação facial bidimensional realizada com técnicas da aproximação facial 3D digital. Imagens escalonadas. A. Imagem da fotografia frontal de face do indivíduo; B. Aproximação facial forense 3D; C. Sobreposição das imagens. FONTE: https://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/1189
Comparação entre as duas Aproximações Faciais realizadas
Imagem: Sobreposição entre as duas Aproximações Faciais realizadas. FONTE: AUTORA

Veja nesta última imagem que os resultados positivos do nosso estudo são aparentes!!! Visto que a face central, como relatam autores, é formada principalmente pelos olhos, nariz e boca e são essenciais para o reconhecimento de um rosto familiar, embora o papel de cada estrutura neste processo não seja claro.

Para a leitura do texto integral do artigo clique aqui.

Juliana Kern de Moraes

DDS, MSD, PhD Estomatopatologia – Patologia UFPR / FOP-UNICAMP

Pós-graduada em Odontologia Legal – ABO RS- HERRERO