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Como tem sido usado o 3D na Odontologia Legal?

Na última década, o avanço dos equipamentos e programas computacionais destinados a criar e manipular objetos tridimensionais (3D) permitiram uma revolução na forma de abordar métodos tradicionais na odontologia.

De fato, não há a reinvenção de métodos, mas sim a validação de técnicas para aplicar conceitos já bastante estabelecidos. No entanto, a adição da análise volumétrica pode alavancar a quantidade e qualidade de evidência a ser utilizada pelo perito odontolegista.

Considerando o Código de Processo Penal Brasileiro (Art. 165, 169 e 170), o laudo do perito no exame do cadáver, do local de crime e de exames em laboratórios podem ser acrescidos com imagens, fotografias e esquemas. Dessa forma, a apresentação das imagens proporcionadas pelo registro e manipulação de objetos 3D conferem credibilidade e evidência de alto nível para a análise.

No âmbito cível, na avaliação, constatação do dano, nexo de causalidade e conduta do profissional, o uso de recursos de imagem também ganha repercussão. À medida que aumentam a disponibilidade de documentação odontológica de caráter 3D como forma diagnóstico e acompanhamento de tratamentos, o domínio dessas técnicas se tornam imprescindível.

Quais são as principais fontes de objetos 3D?

O cirurgião dentista (CD) pode obter objetos 3D para as mais variadas funções e aplicações forenses por meio dos seguintes recursos:

  • Exames volumétricos: os exames capazes de registrar o volume de tecidos (duros ou moles) podem ser utilizados para a produção de objetos 3D. O processo, conhecido como segmentação, pode ser aplicado em qualquer exame apresentado no formato DICOM (Digital Imaging Communication in Medicine). Os programas visualizadores de DICOMs apresentam os dados de acordo com tons de cinza que representam a densidade de cada tecido registrado. A segmentação consiste em selecionar densidades específicas para selecionar e exportar, gerando uma superfície conhecida como MESH. Dentre os principais exames, destacam-se as tomografias computadorizadas de feixe cônico e do tipo helicoidal, que utilizam radiação ionizante. Já a ressonância magnética e o aparelho de ultrassom podem gerar dados sem exposição do indivíduo e da equipe à radiação. Quando comparados aos demais métodos apresentados a seguir, estes exames possuem a vantagem de capturar a superfície e as estruturas internas dos tecidos com grande precisão dimensional.

  • Escaneamento 3D: Os escâneres de superfície são capazes de capturar a topografia externa de objetos por meio de um registro detalhado. Seja com uso de laser ou do tipo de luz estruturada, os escâneres atuais são capazes de capturar características cada vez mais detalhadas do objeto. Muitos são capazes de registrar texturas e cores com definição suficiente para permitir o exame qualitativo posterior.

  • Fotogrametria: Essa técnica consiste em realizar fotografias sequenciais do objeto, corpo ou mesmo uma cena de crime. A sequência e quantidade de imagens devem ser suficientes para permitir a observação dos pontos de referência por diversos ângulos. Dessa forma, programas específicos são capazes de remontar a sequência de imagens, definindo a posição e sua angulação. O resultado é a captura da topografia externa do objeto, revestindo-o com uma textura formada pelas próprias fotografias, conferindo uma natureza foto-realista. A vantagem está no menor custo e em trabalhar sem radiação, tornando-a perfeita para o uso desde o consultório ao local de um crime.

Quais são os principais formatos de arquivos 3D?

Existem vários arquivos que podem conter as informações do MESH gerado pelos métodos acima. Os com formato de sterolitografia são conhecidas como STL e são muito usados para objetos sem textura, como os de exames volumétricos e de escaneamento a laser. Outros formatos comumente utilizados são o OBJ e PLY, que permite a inclusão de texturas e materiais. O formato FBX, que é amplamente utilizado na indústria de jogos e animação, permite a simulação da posição do corpo. Além disso, existem formatos específicos para determinados softwares de modelagem 3D, como o BLEND para o Blender e o MAX para o 3ds Max. É importante escolher o formato adequado de acordo com a necessidade final.

Onde pode ser empregados os objetos 3D?

Identificação humana: A comparação 3D é o campo mais interessante. Alinhando, sobrepondo e comparando os objetos, o perito pode comparar por meio de um mapa de cores que traduz em uma escala o grau de coincidência destes elementos comparados. Quando há coincidência, os pontos podem ser representados como verdes; quando estão distantes, tornam-se azuis e vermelhos, como na escala utilizada no programa CloudCompare. Para isso, é necessário que já exista um exame antemortem de natureza volumétrica.

A reconstrução facial 3D: Esta área também apresenta benefícios com o uso do 3D. O que há 15 anos era ficção científica, hoje se torna rotina e o método de eleição para a busca por pessoas desconhecidas. A reconstrução facial 3D permite criar uma representação visual realista do rosto da pessoa, utilizando técnicas avançadas de modelagem e texturização. Isso possibilita uma maior versatilidade, auxiliando no reconhecimento e facilitando o trabalho dos peritos na comparação com fotografias ou descrições de pessoas desaparecidas.

Traumatologia e Balística forense: O uso de modelos do tipo FBX permite que ao perito recriar a postura e posição corporal no momento do fato. Com isso, pode-se verificar a compatibilidade entre as lesões apresentadas e os fatos e indícios conhecidos.

Com a fotogrametria e o escaneamento de superfície, é possível capturar a textura dos objetos e fazer análises qualitativas de lesões de natureza física como a marca de mordida e decorrentes de outras energias mecânicas.

Antropologia física: É possível conduzir análises detalhadas envolvendo a craniometria e análises qualitativas do crânio de maneira digital e remota, caso este tenha sido registrado pelas técnicas citadas acima.

Enfim, a adição das técnicas 3D auxilia em todas as etapas da análise pericial, seja do registro inicial ao laudo consubstanciado e deve ser dominada pelo perito ou especialista na área.

Autor:

Prof. Thiago Leite Beaini – Cirurgião dentista

  • Especialista em ortodontia e odontologia legal
  • Mestre em odontologia social
  • doutor em odontologia legal
  • Pós-doutor em ciências odontológicas
  • Presidente da associação Brasileira de ética e odontologia legal 2018-2022
  • Prof. Da Universidade Federal de Uberlândia

Sugestão de leitura: Aproximação Facial Forense 3D: protocolo de execução em atividade pericial

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